A queda de confiança na comunidade de fé
Na última semana, vivenciamos um momento doloroso no âmbito espiritual: a Zion Church, sediada em São Paulo, anunciou o afastamento de seu pastor, Lucas Hayashi, após ele confessar publicamente ter cometido adultério durante um culto.
O comunicado oficial da igreja informa que “após ser confrontado por sua liderança, ele confessou a prática do pecado de adultério e imoralidade sexual, o que o desqualifica para o exercício do ministério pastoral”.
Segundo relatos, a acusação chegou à liderança após o envio de imagem que teria demonstrado a conduta em local de prostituição, o que desencadeou a confrontação formal e a subsequente carta pública de arrependimento do pastor.
O que esse episódio revela?
- A liderança espiritual não é blindada
Nenhum título, púlpito ou função espiritual garante imunidade ao erro humano. Quando um líder peca ou falha, não apenas ele está em queda, há toda uma comunidade que sente o impacto: fiéis, família, ministério, reputação da instituição. Este fato nos convida à humildade e à vigilância constante: qualquer pessoa que exerce autoridade espiritual precisa manter transparência, integridade e consciência de que será observada.
- A comunidade de fé merece mais que posições, merece coerência
A mensagem do evangelho pede vida transformada (“vós sois carta de Cristo”, “vossos corpos são templo do Espírito”), e quando vemos uma liderança que não conecta pregação e prática, a raiz da confiança se abala. Desconfiança não vem apenas do erro, mas da percepção de “dupla face”. A igreja comunicou que o episódio “não configura crime ou ilícito civil”, porém se trata de “questões morais contrárias aos princípios bíblicos e éticos que norteiam a fé cristã”.
Ou seja: talvez não haja implicação jurídica, mas há implicação espiritual, na quebra do pacto de confiança.
- O sofrimento da família e o acompanhamento da igreja
Importante destacar: a nota da Zion Church afirma que a esposa do pastor, a Jackeline Hayashi (também pastora), e os filhos receberam apoio da congregação. A igreja pede orações pela família e reforça que está oferecendo acolhimento.
Isso mostra que, mesmo diante do erro, há necessidade de misericórdia, suporte e restauração para os que estão ao redor, e que muitas vezes sofrem o impacto de uma queda que não iniciaram.
E agora? Caminhos de cura e reconstrução
A) Para lideranças: introspecção séria
Faça uma régua interna: onde estou vulnerável? Que áreas da vida afasto da luz?
Reconheça que “ser líder” não é estar acima de tudo, mas estar em constante posicionamento de servidão autêntica.
Estabeleça sistemas de prestação de contas, mentorias, cultos regulares de reflexão.
B) Para comunidades: clareza e carinho
A verdade deve prevalecer. Ocultações, encobrimentos, silêncio prolongado corroem a fé da comunidade.
Restauração exige dor + confissão + mudança visível. Sem esse processo, corre-se o risco de criar “fantasma de liderança” que permanece só no título.
Apoie a família envolvida. O ministério teve queda, mas a vida e os relacionamentos continuam. A igreja que acolhe espelha o Cristo que cura.
C) Para todos nós: lição de vigilância pessoal
Não ponha seus olhos só em líderes, ponha-os em Cristo. Que o pastor, pastora, evangelista sejam instrumentos e não ídolos.
Pergunte-se: “Em quais níveis minhas palavras e minhas práticas não se encontram?”. O mais difícil não é liderar os outros, é liderar a si mesmo.
Reconheça que o chamado de Deus inclui integridade, não apenas visibilidade.
Conclusão: Esperança acima da queda
Toda queda carrega em si risco de derrota, mas também nascem dela raízes de renascimento. A igreja que reconhece o erro, que é transparente, e que caminha no caminho da restauração, torna-se farol mais brilhante do que antes.
Que possamos clamar por líderes que não sejam imaculados, porque isso não existe, mas que sejam autênticos, arrependidos, dispostos a levantar quando caem. E que possamos ser parte de uma comunidade que valoriza a integridade mais do que a imagem.
Que Deus ilumine nossa jornada, e que sejamos sedes de verdade, amor e retidão.
Com sinceridade e convicção,
Andrea Marcondes Lopes
